Desde o dia 02 de junho de 1968 até os anos atuais, a cidade de Mossoró tem o privilégio de contar com um grande artista no seu verdadeiro time de fazedores de cultura, transformadores de mundos. Nascido e criado no município onde o Sol brilha mais forte, foi entre uma prole de cinco irmãos que surgiu Airton Cilon da Silva, dando início à fileira.
Filho de Francisco Eliel da Silva, pedreiro, e Odeniza Maria da Silva, dona de casa, Airton vive da arte. Hoje, aos 54 anos, o conterrâneo coleciona memórias e histórias de quem percorre a vida nas suas mais variadas possibilidades. Desse modo, ele se encontra na música, como cantor, na literatura, como poeta, e nas artes plásticas, como pintor. E é sobre esta vertente que nós vamos desbravar.
Com vocês… A catarse artística do talentoso Airton Cilon, na exposição do mês de julho, aqui no Reticências Culturais.
Tudo começou quando ele ocupava a idade dos 12 ou 13 anos. Foi nesse período em que ele começou a ter os primeiros contatos com a arte, através de um tio materno, que desenhava e pintava. Com a influência do parente, Airton Cilon começou a elaborar os primeiros rabiscos, copiando, inicialmente, revistas em quadrinho.
A partir daí, foi caminho só de ida. A arte visual abriu os olhos do artista para a literatura. Por volta dos 18 anos, ele ganhou de um primo, um livro de poesias. Na realidade, era uma coletânea de poetas consagrados do Brasil, como Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Florbela Espanca, entre outros. Como não se apaixonar pelo universo da poesia e das palavras tendo essas referências, hein?
“Aquilo me encantou e levou a escrever meus primeiros poemas”.
Airton Cilon, artista mossoroense.
Concomitantemente à literatura e às artes plásticas, Cilon conta que sempre gostou de música e de cantar. Ele diz ainda que seguia acompanhando os seus ídolos pelo rádio. Até que, um dia, o seu irmão mais novo comprou um violão juntamente com um amigo a fim de aprender a tocá-lo. Posteriormente, comprou mais um, e assim, vendeu um dos instrumentos para Airton. Era o que faltava para ele começar a caminhar pelos primeiros acordes.
“Era tudo uma brincadeira, algo para me divertir e animar a roda de amigos”, relata o mossoroense. Brincadeira que, aos poucos, foi se transformando em profissão. Por entre as tantas canções envoltas numa mesa de bar e as tardes de bohemia nas vielas desta cidade, Airton Cilon, de repente, já estava dando algumas canjas nos barzinhos e descolando um trocado daquele teu trabalho. Por que não?.
Nessa brincadeira séria, já são 19 anos vivendo e sendo arte. Como ele mesmo diz, “defendendo a boa música nessa cidade”.
Nas artes visuais, Airton busca “identificação” nas suas obras. Através delas, ele espera que o público possa se encontrar e se ver também naquelas entrelinhas. Para o artista, pintar e desenhar é um momento de criação e de comunicação, onde quem fala são as cores e as pinceladas, procurando transmitir emoção e verdade. “Isso é uma forma de terapia, de catarse”, segundo ele. E eu tenho que assinar embaixo.
Algumas das suas principais referências e inspirações na arte das telas são Van Gogh, Salvador Dalí, Cândido Portinari, Egon Schiele, entre outros. Mas uma se sobressai: Frida Kahlo, mulher à frente do tempo em tantos sentidos, inclusive, no recorte da inclusão a pessoas com deficiência, uma vez que ela vivia essa realidade. Frida e Airton se assemelham nesse quesito, o que não quer dizer limitação alguma para que ambos fizessem as suas artes, e Cilon é certeiro quanto a isso:
“Primeiro que, para mim, artista é artista independente de sua condição física, de raça ou orientação sexual. […] A deficiência é só um detalhe e não muda em nada. O que valor é o talento”.
Airton Cilon, artista mossoroense.
Segurando na mão do pincel, deitando no colo das suas telas, os anos e mais anos de parceria com as artes plásticas lhe renderam uma motivação: o reconhecimento e o apoio de tantos. O aplauso não deixa de ser um combustível. E que seja! Assim, Airton Cilon e tantos outros artistas perpetuam as suas artes, e nós, admiradorxs, continuamos a viver dessas catarses artísticas.
E no caso do filho de Dona Odeniza, espaço para pincelar os seus desenhos é o que não falta. Isso porque é comum encontrar obras de Cilon em diversas superfícies, além da tela branca. Um exemplo é o tronco de madeira. Ali, as pinturas do artista são fundidas naquele pedaço de vida. Isso, segundo ele, não é uma virtude, mas sim, experiências e desejo de trazer algo novo.
“Arte é o dom de despertar emoção. Se o que você faz como arte é capaz de emocionar alguém, [então] isso é arte!”.
Airton Cilon, artista mossoroense.
De Mossoró, Airton acredita nos fazedores de arte e na potência que a cultura tem. O que ele não crê é no poder público, que de acordo com o pintor, “despreza seus artistas, e os mesmos vivem de pires na mão pedindo mais apoio aos setores de cultura da cidade”.
Sobre o futuro, ele não o espera. Enquanto o vive, escreve as suas histórias dentro dos limites que o destino lhe conceder, buscando sempre o melhor de si e se superando a cada novo trabalho.
Na mala, cinco livros de poesia publicados – “Amor Platônico” (1998, Editora Coleção Mossoroense), “Mil Pedaços” (2002, Editora Coleção Mossoroense), “Impressão Digital” (2003, Coleção Mossoroense), “Flor de setembro” (2005) e “Eu Lírico” (2018, Editora Queima Bucha); o show “O Início, o Fim e o Meio”, em 2019, homenageando os 30 anos do ídolo Raul Seixas; e participações em diversas exposições ao redor do seu mundo. Agora, mais uma.
Aproveitem, fruam, se deliciem pelo magnífico trabalho do artista Airton Cilon!
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