A arte existe nos muros da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte; nas salas de aula; nos cadernos dos estudantes; nos professores e professoras da instituição; nos encontros regidos pelo acaso; nas conversas; nos olhares. Mas, talvez, faltava arte num dos locais mais evidentes: a própria UERN. E agora tem, bem na entrada. 

Passando pelos portões, não há como evitar que os olhos mirem uma grande cruz, branca, que simplesmente agarra um tanque de guerra, que está virado para baixo. Sinto bem a inquietude de algo que quer se livrar, mas não consegue viver sem. Está ali, a paz e a guerra. Juntas. Opostas. Equilibradas. À mostra. Gravidade zero. Unidas pela vértice do centro de uma cruz. 

Abaixo, mirado pela ponta do tanque, um corpo, um ser, doado ao destino que lhe restara; dado à imprevisibilidade que te vigiara. Eis uma imagem de Salvador Dalí, emprestada da sua obra “A Ascensão de Cristo”. Um homem sem rosto, deitado, entregue, neste caso, à guerra, ilustrada pelo automóvel de combate. 

Ao redor, um carro desconfigurado, uma geladeira vazia, uma máquina de lavar que não serve mais, um carrinho de bebê deixando de ser de alguém, uma bicicleta sem perspectivas, um velocípede ao léu. Um cenário de pós-guerra, onde a paz se esconde nos escombros da humanidade. 

Foi assim que o artista Guaraci Gabriel decidiu criar uma obra que fizesse alusão à guerra entre a Rússia e a Ucrânia, representando, ali, um grito pela paz. A desunião, a desarmonia, a desesperança, estão presentes numa busca incessante de silenciar a paz, correspondida pela imagem de Cristo, ou do homem, do ser humano ou de cada uma de nós. 

Essa é a obra de arte “Ressurreição da Paz”, do artista potiguar Guaraci. Agora, instaurada na entrada do Campus Central, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), aqui em Mossoró, reforçando que a paz é prioridade, que a instituição é espaço de construção da mesma, e que acontece arte dentro de uma universidade. 

Esse é o #TBTEMPO de hoje. Para isso, o Reticências Culturais preparou uma videorreportagem, onde podemos ouvir o próprio Guaraci Gabriel falando do seu novo trabalho, além de ver de que forma a obra é vista pela própria comunidade acadêmica.

#paracegover: foto da obra “Ressurreição da Paz”, onde tem uma cruz branca com um tanque de guerra pendurado, a imagem de um homem deitado, um carro desconfigurado à frente. Por detrás estão os blocos da UERN. Fotografia: Luiza Gurgel.

“Toda guerra é um tiro no pé da humanidade”, declara Guaraci Gabriel ao ser questionado pelo Reticências Culturais sobre a obra. 

Não há como não se deixar tocar pela estrutura. E quem não a percebe, é porque muito provavelmente não tem o costume de perceber a arte na vida fora daqueles portões. Porém, a estrutura nos convida a desfrutá-la. E assim, nos perdemos para nos encontrar por alguns minutos.

A inauguração da escultura “Ressurreição da Paz” aconteceu no dia 08 de abril de 2022, e o Reticências Culturais esteve por lá. A solenidade contou com a presença da reitora da UERN, Cicília Maia, além do vice-reitor, Chico Dantas; representantes das religiões umbanda, na pessoa de Pai Bolinha de Ogum, e católica, na pessoa de Pe. Charles Lamartine; o secretário municipal de cultura, Etevaldo Almeida, as secretárias Hubeônia Alencar e Morgana Dantas, da educação e da saúde, respectivamente; a atriz Tony Silva; discentes, docentes e técnicos da instituição;  assim como, outras figuras da sociedade mossoroense.

“Precisamos regenerar o mundo e tornar a busca pela paz uma missão diária e de todas as pessoas”. Foi com essas palavras que a reitora da Universidade Estadual do RN deixou cravado o recado. E fez questão de repeti-lo mais de uma vez para que não restassem dúvidas.

#paracegover: na foto, o vice-reitor, Chico Dantas, ao lado do artista Guaraci Gabriel e da reitora da UERN, Cicília Maia, respectivamente. Todos com roupas brancas e os dois homens, com a sigla da UERN estampada. Fotografia: Agecom/UERN.

Essa é a primeira obra de arte que o artista visual de São Pedro do Potengi/RN assina dentro de uma universidade. Um desafio e uma vontade que o profissional esperava viver. 

A escolha do local já vinha sendo discutida anteriormente com o secretário Etevaldo, que também é professor da instituição. Segundo ele, “o apoio da nossa UERN é fundamental para difundir a cultura em nosso município e no Estado” e, por isso, “precisamos cada vez mais patrocinar e fomentar a arte e a cultura”.

A escultura foi patrocinada pela J. Patrício, que entrou no auxílio aos elementos e insumos de sucata e metal. Mas não só isso. A empresa já acompanha, dando todo o suporte, às obras de Guaraci há um tempo. Ensinamentos do pai, fundador da empresa. “Meu pai faleceu muito jovem, mas nos ensinou a beleza da arte”, destaca Joaquim Patrício, diretor comercial.

“Nós temos a missão coletiva de transformar vidas. […] A Universidade precisa ser cada vez mais viva, estar junto com o povo, vestida de acolhimento, de arte e de cultura”.
Cícilia Maia, reitora da UERN.

Com tantos apoios e possibilidades de acontecer, a obra “Ressurreição da Paz” permanece exposta na entrada do espaço. O acolhimento da escultura no Campus Central só ratifica o papel da Universidade como um espaço possível para a produção da paz, de incentivo ao pluralismo cultural e do respeito à diversidade.

“Ressurreição da Paz” nos propõe uma reflexão crítica acerca das tantas guerras que assolam o mundo, e nos convida a pensar a harmonia e a união da humanidade.

Confira abaixo à videorreportagem do #TBTEMPO desta quinta-feira.

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