Talvez o desafio maior – ou melhor, um dos –  que a pandemia da Covid-19 tenha nos deixado, e assim continua, seja a readaptação do costume da convivência tátil. O viver em sociedade de um jeito novo, porém antigo. O ombro no ombro, o peito com peito, o sorriso que conversa diretamente com os olhos, agora, são barreiras construídas por motivos de saúde. Dos nossos; do eu; do todo. 

Os números atuais relacionados aos casos de contaminação à doença mostram pequenas possibilidades de um convívio mais próximo do que conhecemos de “presencial”. No entanto, com algumas especificidades: o uso obrigatório de uma máscara, de uma higienização constante e de um distanciamento entre as pessoas. Com essas obrigações (espera-se que momentâneas) e números cada vez mais otimistas diante de um futuro possível, a arte enxerga um caminho para reencontrar os olhares do público… os olhares nos olhares.

É a partir disso, que a artista Renata Soraya realizou o primeiro ensaio aberto de forma presencial do seu espetáculo Alarido, elaborado juntamente com o ator e diretor teatral Dionízio do Apodi. Em março de 2021, elxs haviam realizado um ensaio aberto, porém, virtual. Agora, o olho no olho de fato aconteceu. 

#paracegover: a artista Renata Soraya está deitada no chão de barriga para baixo, com uma faixa vermelha com bolinhas brancas e flores, enrolada na cabeça. Ela está com uma xícara branca e desgastada na boca, e os olhos estão bem expressivos. Na foto, o rosto de Renata está em primeiro plano e bem iluminado. FOTOGRAFIA: Maxson Ariton.

De acordo com Renata, a peça cênica percorre a dança a partir do universo sertanejo, buscando não somente encontrar novas possibilidades dentro desse labirinto chamado “corpo”, mas também esbarrando em territórios pouco explorados do povo do sertão, como história, ambiente e cotidianos que carregam costumes, hábitos antigos e superstições. 

A pesquisa vem sendo desenvolvida há cerca de três anos, mas os idealizadores dizem que permanece em construção. Contando com a colaboração sensível da cantora Alzeny Nelo e do multiartista Rodrigo Silbat, o espetáculo objetiva também a indagação do público quanto à conscientização corporal do artista sobre a dança, e o papel transformador disso na sociedade. 

Em Alarido, o instrumento de trabalho é apenas o corpo. Com ele, a bailarina não se limita a executar a coreografia unicamente, mas também ser o objeto principal de todo o processo de produção, desde criação à execução. O trabalho de dança transforma-se num completo funcionar, onde não só o gesto é incorporado à dramatização, mas também a voz, a respiração, os objetivos cênicos, os figurinos, a iluminação e o cenário… onde até a trilha musical é executada com elementos técnicos externos.

#paracegover: Renata Soraya está segurando uma uma bacia de alumínio na frente do seu rosto, tapando-o. Ela veste uma blusa e saia em tons de bege. A bacia está bem iluminada. FOTOGRAFIA: Maxson Ariton.

O ensaio aberto presencial do espetáculo Alarido aconteceu no dia 04 de setembro, no Espaço Cultural No Meio do Mundo, localizado no bairro Santa Delmira, em Mossoró. O evento contou com um número limitado de até 25 pessoas, e o blog Reticências Culturais esteve presente. Com isso, você vai poder ter um gostinho de tudo que rolou por lá. Além de que este será o primeiro conteúdo audiovisual do Reticências Culturais, estreando o canal do Youtube do Blog. O início de um nascer de pluralidades artísticas.

Aproveitem! E que essa pílula sirva para intensificar a saudade dos palcos e da arte mundo afora…

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One reply on “Espetáculo Alarido acontece pela primeira vez de forma presencial”

  • setembro 14, 2021 no 10:18 am

    Caramba que blog massa em? Amei.
    O Alarido foi simplesmente magnífico.

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