“Mas se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados, porque o tempo, o tempo não para”. Com esses versos, Cazuza gritava a continuidade da vida com o seu hino forte e atemporal, que é “Exagerado”. Ao lado dele, outros artistas faziam da década de 1980, no Brasil, uma das mais marcantes no que se refere à cena musical. Legião Urbana, Titãs, Os Paralamas do Sucesso, Capital Inicial, Blitz, Biquini Cavadão, entre outras bandas, grupos e artistas que fazem sucesso até hoje.
Paralelamente a isso, outros nomes da arte musical se estabeleciam culturalmente aqui no município de Mossoró/RN. Não só pessoas, mas também, estabelecimentos, bares e hotéis que serviam de palco para tantas vozes inigualáveis. Vozes estas que servem, até hoje, de inspiração e de ponte para tantos outros artistas.
De lá para cá, os profissionais da música multiplicaram-se. Respeitando cada geração, abrindo espaço, Mossoró foi ficando pequena para a capacidade cultural desses tantos artistas. E assim seguimos até os dias atuais e posteriores.
Pensando em realizar o resgate histórico do cenário da música da Capital do Oeste Potiguar desde os anos de 1980 até os de agora, a produtora cultural e também cantora Katharina Gurgel idealizou uma revista que unificasse todo esse contexto num só lugar. Dessa forma, juntamente com a também cantora Dayanne Nunes, criou a revista digital APLUSO!.
Como a própria introdução informa, os principais objetivos da Revista é ampliar o acervo histórico da cidade, democratizar o acesso aos fatos e homenagear artistas e as suas mais diversas expressões culturais dentro do universo musical. E, posso lhes dizer, o periódico faz isso com maestria. Além de que não haveria nome mais apropriado para este projeto do que APLAUSO!, não é mesmo? É uma forma de reconhecer todos, todas e todes que fazem parte desse recorte.
Com uma pesquisa profunda e um faro aguçado de quem não só busca conhecer a história dos seus antecedentes, mas também, as suas próprias, Katharina e Dayanne procuraram nas pessoas (entre historiadores e profissionais da música desde os anos 80) respostas desse recorte quase apagado pelo tempo.
Conversando com Katharina, ela reconhece que as duas pesquisadoras sentiram-se um tanto frustradas por não achar nada escrito sobre a área musical local, apesar dessa cena ter feito parte de todos os momentos em Mossoró. A idealizadora diz ainda que a pesquisa foi bastante difícil, “porque não existe nada catalogado, registrado sobre a música aqui na cidade.”. E ela conclui: “tivemos que falar com várias pessoas para conseguir material e conteúdo para o projeto”.
Acontece que, embora seja um verdadeiro pólo quando o assunto é arte e cultura, Mossoró corrói-se por si mesma ao não dar a legítima e digna valorização que a categoria merece. Digo isso porque, na Revista, encontramos nomes e lugares da história que deveriam ser perpetuados, registrados, reconhecidos e respeitados pelo poder público e, consequentemente, a população.
Um desses espaços é a Associação Cultural Universitária, o ACEU. Um dia, o local realmente foi um ambiente de encontro cultural; hoje, é um conglomerado de paredes velhas e desgastadas no meio do Centro de Mossoró. A revista APLAUSO! resgata o Clube, mostrando o quão importante foi para a cidade entre as décadas de 1960 a 1980.
Na Revista digital também é possível relembrar nomes de restaurantes e bares que foram referência para a música local, como O Burburinho, Viola Lilás, Bate Papo Bar, Ponto Frio, O Ferrão, A Paulistana, Berlin Mar, entre outros. Assim como hotéis, boates e casas de show, como Esnobe, Psiu, Minininha do Cantoá, O Imperial, Rock’in Rio, etc.
Se você não viveu ou nunca ouviu falar nesses lugares, com certeza teu pai ou tua mãe experienciaram em algum momento da vida.
Se formos citar os daqueles e daquelas que abrilhantaram todos esses tempos desde a década analisada, daria um verdadeiro dicionário da arte musical mossoroense. Desde Marcos Lucena, Messias Paraguai, Bartô Galeno, João Mossoró, Hermelinda até Concriz, Airton Cilon, Anderson Lima, Alan Jones, Severo Ricardo, Bia Gurgel, Netinho Santos, entre tantos outros, a Revista APLAUSO! discorre sobre o tempo sem necessariamente citá-lo, deixando que as épocas façam esse trabalho por si só.
Nos escritos, ainda é possível encontrar nomes de bandas e grupos musicais (entre rock, forró, chorinho, baile e outro gêneros), comércios de fitas e cds, eventos culturais inesquecíveis onde a palavra-chave era “música”, festivais e projetos da canção, e muito mais.
Na realidade, a revista digital APLAUSO! sai do seu papel de entretenimento e torna-se um verdadeiro documento da história dessa cidade e dos artistas que nela passaram e/ou existem. Através dela, poderemos conhecer um pouco mais as nossas raízes e, também, tornamo-nos raízes para os nossos futuros artistas.
“A gente espera que a Revista divirta, informe, divulgue, desperte a curiosidade no seu leitor, que pode e deve ser estudante, músicos, donas de casa, homem, mulher, jovem, idoso, qualquer pessoa que curta, goste e respeite a música mossoroense”.
Katharina Gurgel, idealizadora da Revista APLAUSO!.
APLAUSO! nasce a partir da contemplação no edital da Lei Aldir Blanc Municipal, por Katharina Gurgel. A Revista tem edição única, no entanto, suficiente para que possamos ser picados pelo mosquito instigação, entender um pouco mais da nossa história e sentir vontade de novos projetos desse cunho: registro cultural.
Katharina disse, em entrevista, que APLAUSO! é uma pesquisa inacabada, cíclica, que buscará sempre se atualizar, podendo, quem sabe, haver uma edição posterior. Enquanto ela não vem, debruçamo-nos por essa primeira edição tão importante para a cultura mossoroense. Por fim, ratifico a frase que dá início à Revista: “aplauso para todos os artistas que nos alimentam de música na cidade [de Mossoró]”.
Revista APLAUSO!
Esta revista foi executada através da Lei de incentivo Aldir Blanc, por intermédio da Prefeitura Municipal de Mossoró.
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