Atenção, atenção, que tem programação para integrar a agenda cultural desta semana, em Mossoró/RN! Nesta sexta-feira (29), às 18:30h, o documentário “Saudades”, da cineasta mossoroense Marília Gurgel, será exibido, em sessão única, no Teatro Lauro Monte Filho. O evento será gratuito e ainda contará com um debate, após o filme, com a diretora do curta e Romero Oliveira, que foi quem fez a trilha sonora.
De forma leve, poética, íntima e profunda, Marília divide com o público o entrelaço do luto com a saudade, atravessado pelas relações entre três gerações: avó, mãe e filha. Tudo começa com a morte do seu avô, ainda em 2020, no mês de agosto, por complicações oriundas da Covid-19. “Se a solidão já fazia parte de mim, quando ele morreu, eu percebi que não ia mais conseguir seguir sozinha. Decidi voltar para minha cidade-natal, Mossoró, uma terra árida que carrega a brisa do mar. Me coloquei de novo entre contrastres”.
É mais ou menos assim que a fotógrafa e produtora audiovisual Marília Gurgel, galho de árvore mossoroense e filha do mundo, começa o seu filme “Saudades”. Feito durante a pandemia, num paralelo entre o temor da possibilidade vã de encontros físicos e o pulsar de interações conectantes de contatos vazios. “Me coloquei de novo entre contrastes”.
Na sinopse, Marília descreve um novo mundo onde “o luto deve ser vivido em silêncio, na intimidade e – de preferência – o mais rápido possível”. Ela pontua bem o que todas, todes e todos nós vivemos e sentimos durante esses dias e anos incertos de pandemia. O luto, agora, toca de forma diferente: para muitos, passageira, para outros, empática. Para muitos, números, para outros, choro de outros choros.
O título “Saudades”, como já se imagina, vem do sentimento de Marília para com as suas raízes – Mossoró, mar, Rio Grande do Norte, mãe, família, Nordeste, sotaque -, mas não só. A palavra que dá nome ao filme não existe na cidade em que a diretora realizou boa parte da pós-produção, Nova York, nos Estados Unidos. Diante disso, não haveria tradução melhor para o que ela buscava retratar na obra.
“Em ‘Saudades’, o luto é o que reconfigura a vida e transforma as relações entre os que permaneceram, é um retrato poético do luto vivido por três mulheres: filha, mãe e avó”, trecho da sinopse de “Saudades”, de Marília Gurgel.
Conversei com Marília para me aprofundar um pouco mais nesse mergulho que é “Saudades” – embora eu já tenha assistido e já esteja submersa. Perguntei qual foi o maior desafio ao pensar e fazer o filme, e ela respondeu: “olhar para os nossos traumas”, sobretudo, de família. É difícil. Desconfortante. É falar sobre o que nem sempre se quer falar. É olhar para dentro. É bater lá dentro da alma e voltar desnudando-a, transbordando através das lágrimas.
Desafiador, também, ter que olhar de forma crua para o luto, de acordo com a diretora, principalmente por termos que vivê-lo com rapidez. Nesse projeto, a dor é ressignificada para que o luto seja transformado em fonte de renascimento. No caso do filme, renascimento da família, de uma avó, de uma mãe e de uma filha. No final de tudo, o processo de transformação dessas relações talvez tenha sido uma das maiores barreiras a serem quebradas ou, assim como a dor, ressignificadas.
Como seria de imaginar e fazendo jus às novas condições temporárias de pandemia, o documentário foi construído completamente à distância: Marília Gurgel, a diretora estava morando em Nova York, nos EUA; Laura Magalhães, editora, em Portugal; a roteirista, Nalu Béco, em São Paulo; trilha sonora diretamente de Mossoró, por meio de Romero Oliveira; designer diretamente de Olinda e Recife, no Pernambuco; entre outros. Todes, todas e todos, altamente comprometidos na produção, na base do “bora? bora!”, e o resultado dessa harmonia é o lindo trabalho de “Saudades”.
Além do luto, das relações familiares e do pertencimento, o documentário fala, também, sobre cura, nas entrelinhas, com cuidado e emoldurado pela poesia; fala sobre a história de uma família, mas não apenas ela. O filme traz sentimentos – talvez desconfigurados e embaralhados pela pandemia – de desalento, amor, entrega, e claro, saudade. O curta-metragem é, ainda, uma homenagem às vítimas da Covid-19, através do avô de Marília, Seu Edvaldo Cunha.
A exibição será gratuita, no Teatro Lauro Monte Filho, às 18:30h, nesta sexta-feira (29). Após o filme, haverá um debate com a diretora, Marília, e o responsável pela trilha sonora, Romero Oliveira, para conversarmos sobre a obra.
É imperdível…
“Foi um processo que eu entrei muito forte, minha família entrou muito forte por motivos óbvios, mas que a gente de alguma forma conseguiu transformar essa dor em nova vida”.
Marília Gurgel, diretora de “Saudades”.
FICHA TÉCNICA
Direção: Marília Gurgel
Argumento: Marília Gurgel
Roteiro: Nalu Béco
Fotografia: Marília Gurgel
Edição e finalização: Laura Magalhães
Imagens adicionais: Piquê Produções Visuais
Identidade visual: Mirah Ateliê de Ideias (Paula K. Santos)
Trilha sonora original: Romero Oliveira
Composição e arranjos: Romero Oliveira
Produção Musical: Glaciliano Sousa
Violoncelo e Arranjos de Cordas: Calebe Alves
Arranjos de Piano: Adeirton Pinheiro
Violão e Percussão: Romero Oliveira
Voz: Socorro Gurgel e Lua Gurgel
…
SERVIÇO
O que é: exibição do filme “Saudades”, de Marília Gurgel;
Quando: 29 de julho de 2022 (sexta-feira);
Onde: Teatro Lauro Monte Filho, em Mossoró;
Horário: 18:30h;
Observação: entrada gratuita.
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