Ressignificando o espaço, revitalizando o espírito e resgatando a ideia, o Beco dos Artistas – que, para quem não sabe, fica localizado ao lado do Teatro Lauro Monte Filho, no Centro de Mossoró – vai ser utilizado. É… utilizado. “Retomado” é uma palavra forte. No momento, talvez o local mais simbólico que a artista visual Malu encontrou para realizar a sua exposição “Afrocentro”, que acontece neste sábado (19), a partir das 18h.
Vamos entender um pouco mais. Para quem acompanha o Reticências Culturais, já vai ser familiar, porque Malu já foi uma das convidadas para assinar a exposição do mês aqui no portal. A artista nasceu em Mossoró, mas cresceu na Praia de São Cristóvão, do município de Areia Branca. A arte, na vida de Malu, de uma forma ou de outra, sempre existiu. Sobretudo, através da sua própria história, pele e ancestralidade.
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Diante dessa força propulsora e desse ímã difícil de descolar, que é a arte, ela se viu mergulhada, profundamente, intensamente, sem colete salva-vidas. Imersa. Assim como ficamos ao nos debruçarmos sobre as telas que Malu pinta. E todas, todos e todes nós vamos ter essa chance ao prestigiar a artista visual na sua mais nova exposição, “Afrocentro”, neste sábado (19), no Beco dos Artistas.
Laura Samilly escreveu divinamente bem ao descrever a exposição de Malu:
“Cada corpo negro em diáspora, carrega um oceano inteiro de gente na cabeça. É preciso expandir nossa capacidade de ver além do que está, para enxergar o que foi, o que realmente é e o que ainda pode vir a ser. É preciso ampliar nossos ouvidos, para ouvir os sussurros do vento, que a todo momento, sopram as direções das encruzilhadas que nos devolvem para o nosso caminho. Àquele que sempre foi nosso por direito e que por isso, no tempo certo, nos reencontra e nos resgata.
AFROCENTRO é um convite corajoso para esse reencontro. Um movimento de retorno e continuidade, impulsionado por uma poética que nunca foi e nunca será estática: a rua. Aqui, onde a magia negra se faz e se refaz, é onde a artista Malu, empresta seu corpo e sua trajetória, para que sejam instrumentos da memória afro diaspórica que pulsa em sua obra e faz da pintura sua oferenda, a todos aqueles que assim como si mesma, habitam essas brechas. Aqui, onde as águas salgadas da Costa Branca escorrem tranquilas por entre as rachaduras caóticas do asfalto e se encontram nas urgências de quem tem pressa, porque tem sede de água doce, que é uma sede que estralhaçalha a garganta e enfraquece a voz, que mesmo falha, mesmo rouca, não se cala. Do contrário: grita e pede reforço e assim ecoa.
Uma busca por símbolos que registram o percurso de nossa passagem nesse vasto espaço-tempo coletivo, que precede nossas existências individuais e assim como uma bússola, norteia os passos de quem vem depois, a partir dos que vieram antes. Busca por uma subjetividade que nos faça acreditar e nos mantenha com fôlego, energia vital e coragem de mergulhar na oportunidade de estarmos vivos e vivendo no presente, aqui e agora, reconstruindo um futuro em que possamos gozar novamente do sonho ancestral de vivermos aquilombados, livres da política branca de morte.”
A concretização destas palavras só é vista a olhos nus. Por isso, é muito importante a presença de muitos e muitas na exposição “Afrocentro”. Como Malu mesma disse, “dia 19, temos um aquilombamento neste Àiyé marcado no beco dos artistas. […] Minha segunda exposição se materializa aqui, nas encruzilhadas da vida e da rua. Nas marginalizações.
A artista visual reforça a importância do público chegar cedo, principalmente para garantir o acesso às obras. Ela diz ainda que as telas não ficarão expostas por mais de um dia. E a noite ainda contará com apresentações da artista Cabocla de Jurema, Cazasuja + Discotecagem. Vai ser bom demais.
A exposição tem apoio da União Estadual dos Estudantes (UEE) e o mandado da deputada federal Natália Bonavides.
“Dia 19 [este sábado] tem mais, mas não do mesmo. Lá no Beco dos Artistas! Bora!”.
Malu, artista visual e expositora de “Afrocentro”.
Bora!
2 responder à “Negritude, diáspora e reencontro na exposição “Afrocentro”, da artista visual Malu, que acontece neste sábado (19), no Beco dos Artistas”
Um bom exemplo de arte decolonial, movimento que busca ampliar a representatividade de gênero, raça, religião, orientação sexual e grupos invisibilizados ou diminuidos historicamente. Muito pertinente essa exposição.
Certeza! Mais do que importante utilizar a arte para ser meio de mensagem, não é mesmo? Vai ser lindo!