Por entre as palavras e os caminhos, há uma mulher que se permeia nos ditos e não ditos da literatura potiguar: Kallyany Sibelli de Amorim Oliveira. Abreviadamente conhecida como KALLYANY AMORIM. Nasceu em Umarizal, no Alto Oeste do Rio Grande do Norte, mas logo nos primeiros anos de vida, foi entregue a Mossoró, sua terra até os dias atuais.

Kallyany Amorim com uma blusa branca com listras azuis, um turbante azul, brincos, sorrindo, e olhando levemente para a direita da foto. Ao seu redor, muita planta. FOTOGRAFIA: Pacífico Medeiros

Kallyany usufrui, hoje, dos seus 39 anos de idade, com um passado cheio de ensinamentos e experiências depois transmitidas para os papéis. Trabalhou como professora de Língua Portuguesa e Literatura em diversas escolas da cidade, tanto para nível Fundamental quanto para Médio; lecionou, durante um semestre, a disciplina de Linguística no Curso de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN); trabalhou, também, como professora de Língua Portuguesa e Produção Textual nos cursos de Administração e Direito da Universidade Potiguar (UNP), em Mossoró; no ano de 2010, Kallyany foi aprovada num concurso público no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN) de Apodi, com o qual permaneceu até 2017, quando foi remanejada para o campus Mossoró, e posteriormente afastada para um tratamento de saúde. Hoje, aposentada na profissão, mas eterna graduanda nas escritas, nas leituras, nos bordados e na maternagem. 

A vontade de escrever surgiu quando ela fazia a oitava série – hoje, nono ano -, quando uma professora solicitou que ela produzisse um poema. Poucos versos foram suficientes para que a professora percebesse o talento da pequena escritora (na época). A partir daquele instante, o interesse pela poesia e pela leitura cresceu exponencialmente. Foi com esse amor que a sua bússola a guiou para o curso de Letras, porque, segunda ela, “era um curso ideal para quem gostava de literatura e queria fazer os outros gostarem também”. 

Para Kallyany, o trabalho de quem escreve se entende a todas as  outras artes, sendo mais como um “refinamento dos sentidos; o aperfeiçoamento das percepções”. Quase como a tradução do que é sentido, sem necessariamente sentir. 

“Muitas vezes, não ‘sinto’ para poder escrever, mas quero perceber o tema ou o objeto de forma sensível, colocá-lo em palavras e tentar tomar o leitor pela mão para que aprecie esse tema ou objeto como eu. Após escrever o texto, às vezes me ocorre pensar que não fui eu, que foi outra pessoa, que eu fui apenas um meio, uma ponte pela qual o texto veio à vida”.

Na foto, aparece mais o rosto de Kallyany, que está com uma camisa branca, cordão, brincos de rosas vermelhas, cabelo curto e cacheado, sorrindo e com olhos expressivos. FOTOGRAFIA: desconhecido.

Kallyany gosta de escrever sobre memórias, passagens de tempo, vida, morte, efemeridade e pequenos milagres do cotidiano, como seres, objetos, elementos perceptíveis ao seu olhar. O convite à contemplação, o demorar de uma fruição são alguns dos pontos que a fascina.

Kallyany já tem quatro livros publicados – Outono (2013, Coleção Mossoroense), Exercício de Silência (2007, Queima-Bucha), Relicário (2015, Sarau das Letras) e Peregrina (2020, Sarau das Letras) – e um saindo do forno, que é o Olhinhos de Poeta (2021, Sarau das Letras). Além disso, a poetisa já participou de diversas coletâneas do Café e Poesia e dos Exercícios Literários, e publicou um trabalho intitulado Sabores, Saberes e Fazeres da Chapada do Apodi, juntamente a outros professores e técnicos do IFRN campus Apodi. 

Confira abaixo os poemas Mística e Vida, ambos do livro Peregrina (2020, Sarau das Letras):

MÍSTICA

“Pois, agora, eu é que vou seduzi-la, levando-a para o deserto e flando-lhe ao coração.”
(Oseias 2,16)

Aquieta-te.
Como a folha caída sobre a grama,
transpassada pela luz do entardecer.
Como essa luz que enrubesce a tez do dia
arrastado nas torrentes do dizer.

Esvazia-te.
Como se te cercasses de um deserto,
sem olhares trêmulos a te mirar.
Como se à beira do mar dormisses,
e não viesse o vento te acarinhar.

Desnuda-te.
Desata os nós de tuas sandálias ornadas
com tranaças de ouro, nesta terra vazia.
Depõe teus anéis sobre a aridez das pedras,
sobre elas reclina tua própria companhia.

Humilha-te.
Aquele que é vem vindo ao teu encontro,
trazendo consigo a espada e a coroa,
mas antes cobrindo, com lírios do campo,
toda essa miséria que de ti ressoa.

Encontra-te.
Vai ao alto e ao profundo de tua solidão,
os muitos rumores te afastam de ti…
Somente abraçando o silêncio verás,
no espelho do Amor, tua alma florir.

VIDA

“Filhinhos, não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!”
(I João 3,18)

Deixa
tua pena
sobre o rascunho em branco,
e canta, e dança, e brinca,
enquanto a canção se faz ouvir.

Cada conta de tua pena,
translúcida, pequena,
no assoalho vai cair,
e palavra alguma
a queda amparará…

Mas o gesto…
Ah, o gesto
é o pássaro fiel
que ao peito amigo
de quem cantou,
e dançou,
e brincou contigo,
sempre retornará.

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One reply on “CONHEÇA AS POESIAS DE KALLYANY AMORIM, POETISA MOSSOROENSE”

  • agosto 6, 2021 no 8:50 pm

    Mulher maravilhosa! Tenho um carinho e admiração enorme por Kallyany! Parabéns pelo blog Luiza. Muita luz para vocês!

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