Se um livro já é bom, imagina um documentário sobre a obra? É isso que Mossoró vai poder conferir a partir desta terça-feira (16). Eu falo do lançamento do documentário “Eu, Preta – do livro para o filme da vida”, do produtor audiovisual Eduardo Bandeira.

#paracegover: Parede de tijolos com uma janela à esquerda. Um senhora, negra, com cabelo curto e óculos de grau sentada à frente, segurando um livro. Plantas ao redor. Eduardo Bandeira, diretor do documentário, na lateral de cortas, segurando uma câmera. FOTOGRAFIA: Lu Nascimento.

O doc surge a partir do livro-reportagem “Eu, Preta”, produto de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), do escritor André Bisneto. O livro lançado em 2018 reúne histórias das vivências de seis mulheres pretas da família do autor. Temas como a solidão da mulher preta e o descobrimento da identidade destas inseridas na sociedade são alguns dos que permeiam a obra literária.

O publicitário, artista plástico e produtor audiovisual Eduardo Bandeira conta que assim que teve acesso ao livro, ficou muito tocado com tudo aquilo: “desde a primeira leitura surgiu a vontade de produzir audiovisual com aquela obra“. Edu conta ainda que o autor do livro sempre lhe deu liberdade para trabalhar com este produto, no entanto, a falta de recursos e incentivos financeiros sempre adiava uma possível produção voltada para o audiovisual. Até agora… uma vez que o documentário foi contemplado na Lei Aldir Blanc do Estado do RN e tem o apoio da Fundação José Augusto.

O livro “Eu, Preta” retrata narrativas de vida de mulheres pretas que sempre estiveram presentes na existência de André Bisneto, autor da obra. Entre elas, primas, tias, avós, até tataravós (in memorian). Maria Ângelo é uma dessas personagens, prima do escritor mossoroense. Ela também foi convidada para participar do documentário “Do Livro para o Filme da Vida – Eu, Preta”. Segundo ela, no livro, o rosto não aparece; é só a fala somada à escrita de Bisneto. Já no doc, você se revela, se mostra. Mas cada um tem a sua devida importância e relevância para acontecer.

“Eu acho que tanto o livro quanto o documentário são instrumentos muito eficazes para dar voz aquelas mulheres que são silenciadas pela sociedade. Eu vejo como uma arma de ascensão para levantar essa voz daquele corpo negro”.
Maria Ângelo, uma das entrevistadas do documentário “Eu, Preta”.

Na obra audiovisual, além de algumas figuras já presentes no livro, Eduardo Bandeira convida atrizes e pesquisadoras a dar voz àquelas do livro que já não estão neste plano, como a tataravó do autor.
Não é copia. Nem tão pouco apenas uma representação. Sempre foi uma intenção fazer o filme ganhar essa penumbra de documentário e isso nos confundir. As interpretações se misturam com o lado pessoal, sempre ultrapassando o contexto do livro. Assim, é comum a confusão se é documentário ou um longa-metragem baseado num livro… Mas a percepção é que estamos ouvindo histórias. Algumas bem tristes, é verdade. E isso nos prende, comove e revolta“, explica o diretor.

Desafios num processo como esse sempre têm, mas são curvas que fortalecem ainda mais o direcionamento desta luta.

“Acredito que todos tivemos grandes desafios, sendo o maior deles, o desafio enfrentado pelas participantes: juliana, Cecília, Francisca, Isis, Maria Ângelo, Maria Geovânia e Rafaela. Além delas, Bianca, Geovana, Luane e Eva. Serei sempre agradecido”.
Eduardo Bandeira, produtor audiovisual.

Para Edu, o reconhecimento das histórias por todes aquelxs que compartilham de experiências semelhantes de luta e de existência é um dos legados que o documentário vai deixar. As lembranças que estão ali dentro de alguma forma guardadas e escondidas; o se enxergar nas dores através de uma tela aproximará, de alguma forma, o público. O reconhecimento e a identificação de tudo que o produto contém e, como consequência, o respeito pelas mulheres, principalmente, pretas, são das lições, talvez a mais importante.

Para Maria Ângelo, melhor ela mesma dizer: “Em relação às mulheres negras, elas vão se encontrar em cada voz que lá irão ser ditas, porque, por mais que sejam em tempos cronológicos distintos, nossas vidas e experiências se cruzam. As mulheres pretas vão se encontrar; mesmo que sejam só uma pessoa, elas são muitas dentro de si. Já para as pessoas brancas, será um momento de reflexão, um despertar para a alma. ‘O que que eu fazendo para essa sociedade ser menos racista?’ Para os brancos, eu espero que cause esse despertar na alma, no ser cidadão”.

#paracegover: foto em preto e branco com oito mulheres em quadrados que compõem a tela. Em primeiro plano, o nome “DO LIVRO PARA O FILME DA VIDA – EU, PRETA”.

LANÇAMENTO

O documentário estreia nesta terça-feira (16), aqui em Mossoró/RN, em sessão única no Teatro Lauro Monte Filho, às 19:30h. No dia 20 de novembro (sábado), será exibido no Cine Teatro Pedro Amorim, no município de Assú/RN, também às 19:30h. Após essas datas, o filme segue disponível no canal de youtube Carranca Bandeirosa (https://www.youtube.com/channel/UCjkI8ZhBte2u6xumTgY_cpw).

O documentário ” Do Livro para o Filme da Vida – Eu, Preta” será exibido em outros municípios do RN, e tudo indica que em outros estados também, mas, por enquanto, não há novas datas confirmadas. O diretor deve divulgá-las em breve. Até lá, a gente segue absorvendo tudo o que o documentário tem a nos ensinar.

Confira outras fotos do processo de gravação:

TRAILER

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