Agora o assunto é arte! Muita arte! Uma arte latente, orgânica, de um menino de pouco mais de 15 anos, mossoroense de chão e de peito, que tem pincelado o mundo com muita sensibilidade e talento. E, sabe, ele nem precisa entender por quê ou como. A arte não se explica, não se justifica; se sente, se joga.
É sobre ele, um pequeno João, que traz a pureza e a regionalidade de outros joões com a singularidade do seu próprio nome: Jongozú. Conhece? Se não, indico que passes a conhecer, e acompanhar o mergulho desse João, adentrando-se na sua própria cultura.
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Embora ainda muito jovem, vivendo os seus 16 anos, João já se reconhece tanto como Jongozú, que parece artista que coleciona experiências há tempos. A certeza do nome lhe traz força para seguir lutando pelo que ele acredita: a arte na sua essência mais pura.
Esse elo irrompeu. E resultado disso é um belo EP, intitulado Cidade Cantada, do cantor e compositor mirim, com cinco músicas totalmente inéditas.
“Fazendo arte na cidade. Fazendo arte para quem pensa diferente na cidade”. É assim que Jongozú começa a primeira canção do seu álbum de trabalho. Quase como um convite: “quem topa fazer arte na cidade?”. E aí, ele continua: “falo de identidade, falo de diversidade, falo de multicultura, de cor na parede, batuque na praça”. E é isso, gente. A arte se faz em todo lugar. A arte está em toda esquina.
Antes mesmo desse projeto começar a ser pensado, a cultura, na vida do ainda João, surgiu a partir do seu irmão, Vitto Poeta, jovem, mas não menos grande, artista daqui de Mossoró/RN. Foi vendo o irmão mais velho fazendo rap, ouvindo-o cantar, que o artista começou a se ver ali, naquele lugar.
“Eu olhava aquilo, os versos, os beats, a cultura, e queria fazer parte, me sentia muito pertencente ao rap”.
Jongozú, cantor e compositor.
Depois, vieram as aulas de violão no projeto Ecoarte, do professor Guido Alves. O decorrer do tempo fez com que João se transformasse em Jongozú. Ou melhor, encontrasse o teu outro “eu”. “Jongo” vem de uma dança de roda afrobrasileira, que, pesquisando sobre, ele se identificou. “Zú” vem de Zumbi dos Palmares, líder e símbolo antirracista no Brasil. Numa junção da força de um com a unicidade do outro, nasceu Jongozú “de corpo e alma”, como ele mesmo diz.
Daí em diante, chegamos no hoje: um menino, leonino, que gosta de cantar, brincar, tocar o teu violão, sempre ao lado do teu skate, que preza pela visceralidade do momento, e que agora lança o seu primeiro produto profissional, “Cidade Cantada”.
A vontade de fazer um lançamento mais maduro do trabalho já existia. Ele precisou se distanciar um pouco da tua música, para descobrir que não vive sem ela. Somado a isso, Jongozú teve esse projeto contemplado no edital da Lei Aldir Blanc do município de Mossoró. Foi quando ele conseguiu comprar um computador e começou a trabalhar nessa produção. Ele diz que os recursos foram mais um “empurrãozinho” para dar início ao processo. No entanto, o trabalho é tão bacana, que mesmo se não houvesse o incentivo, uma hora ou outra ia ter que sair.
Cidade Cantada possui 6 faixas: “Fazendo Arte”; “Até o Fim”; “Raízes”; “Pé de Juá”; e “Zambê Drill”. O EP traz traços da regionalidade potiguar, cerceada pela cultura popular. Tudo, misturando com a linguagem universal do hip-hop e de outros estilos pop.
Cada música traz a referência de alguma manifestação cultural do Rio Grande do Norte, como a congada, o zambê, os ursos de carnaval e a ciranda de roda. E sempre o elemento da “cidade” envolvido, nos fazendo refletir sobre a nossa relação com ela. Como quando o cantor diz: “sempre que germinar, lembre-se de voltar e abraçar suas raízes para agradecer”.
“Por que você acha importante falar sobre isso?”, pergunto. Ele responde: “É importante valorizar nossas raízes culturais para não perdermos o que foi construído por nossos ancestrais lá atrás e que foi muito relevante na formação do nosso eu. Acho que entender isso é entender quem a gente é”. Massa demais.
Se não bastasse cada música ser verdadeiras obra de arte, elas também possuem videoclipes próprios. Exatamente, são cinco produções audiovisuais de presente para gente fruir. Saca só um dos trabalhos:
“Para mim, a arte é um combustível para viver; uma fonte. A arte nos dá muita coisa: esperança, alegria, tristeza, energia, tudo o que a gente pode sentir”.
Jongozú, cantor e compositor.
O processo de gravação começou no primeiro semestre de 2021 e encerrou no início deste ano de 2022. Foi feito basicamente por Jongozú e seu irmão, Vitto Poeta, nas composições, produção musical, beats, direção, edição, mixagem e masterização, com a colaboração de Gerson Nogueira, na assistência de produção. A Produtora Casamarela ficou na co-produção.
Por fim, Jongozú espera que o seu EP, Cidade Cantada, alcance tudo aquilo que ele tem potencial para alcançar, sobretudo, como ele mesmo fala, “nos jovens de dentro e de fora do Estado que precisam entender nossa ancestralidade e não se politizar nesse momento”.
Cidade Cantada está disponível em todas as plataformas digitais de música! E os videoclipes de todas as músicas podem ser encontrados no Youtube.
Aceita esse mergulho?
One reply on “Arte, direito à cidade, pertencimento regional e cultura potiguar em CIDADE CANTADA, primeiro EP do artista Jongozú”
foi um prazer fazer parte desse artigo, está a coisa mais linda!!