Depois de passar uma temporada na capital potiguar Natal e, posteriormente, no município de Caicó, o projeto Cubo de Luz chega a Mossoró, abrilhantando e difundindo as artes visuais para o povo. A mostra itinerante será aberta ao público e ficará instalada na Praça de Eventos, na Av. Rio Branco, entre os dias 07 e 20 de fevereiro de 2022. Pela primeira vez na cidade, a grande exposição conta com 30 artistas, vindos de pelo menos treze cidades diferentes. Entre elas, Mossoró, com duas artistas mulheres.
O Cubo de Luz consiste num projeto voltado para as artes visuais que visa enfatizar o trabalho de artistas do nosso estado, o Rio Grande do Norte. Em algumas obras de arte, conseguimos atravessar épocas, desde a década de 1920 até nosso atual 2022. Sempre através do olhar das artes visuais. A direção de produção e idealização é do produtor de eventos e incentivador cultural Marcos Sá de Paula.
“É algo que nunca foi visto a nível de Rio Grande do Norte, uma vez que estamos levando a arte visual para a praça, para a população tomar conhecimento”.
Camilo Barros, produtor local (Mossoró) do Cubo de Luz.
A curadoria das obras e de como a relação delas foi pensada é da pesquisadora Sanzia Pinheiro Barbosa. Segundo ela, há neste projeto um desenho rápido do que faz parte da sua pesquisa, que é a história das artes visuais no Estado, e que, por isso, todo o trajeto que o Cubo induz o ou a visitante a realizar tem uma justificativa histórica e cultural.
“Na entrada do cubo, eu coloco os artistas que têm toda uma vida voltada para a configuração de um circuito das artes visuais no RN, e isso está associado à inauguração desse modernismo, porque até então não existia alguém dedicado e que toma essa atividade humana como profissão, como Newton Navarro (1928-1992), Dorian Gray (1930-2017), Erasmo Xavier (1904-1930), Zaíra Caldas(1928-2012) e Thomé Filgueira (1938-2008)”, explica Sanzia. Desse modo, esses nomes constituem a primeira face da figura, dando a entender que foram eles e ela que inauguraram esse movimento artístico no território potiguar.
Olhando para as laterais do Cubo de Luz, é possível enxergar uma arte mais colorida e abstrata. De um lado, obras com a presença da pintura naif – tradução para “ingênuo ou inocente, no francês; é um tipo de arte baseada na simplificação de elementos, com cores fortes e a representação do cotidiano – e do outro, artistas mais urbanos e que apresentam traços com formas, planaridade e subjetividade. Entre os artistas, Fernando Gurgel, Isaías Ribeiro, Italo Trindade, Evana Macedo, Nôra Aires (nossa primeira representante mossoroense) e muito mais.
Na saída, artistas com marcas contemporâneas fecham o espaço, trazendo novas linguagens e possibilidades do “ilimite” que a arte é e tem. A performance entra como alternativa, e questões como racialidade, gênero, ancestralidade, corpo e decolonialidade são trazidas ao centro do debate. A curadora do Cubo de Luz chama esse momento de “transbordamento da arte moderna”. Nessa etapa, nomes como Artur Carvalho, Cláudia Moreira, Laíza Ferreira e Malú (nossa segunda representante da Capital da Cultura) fazem parte da seleção.
Realizar este conglomerado de pinturas, fotografias, desenhos, colagens, etc, no formato de um cubo, ao meu ver, foi uma sacada muito bacana, já que a cada esquina, novos artistas e, por consequência, novas telas podem ser encontrados.
Conversando com o produtor cultural do projeto em Mossoró, Camilo Barros, descubro que a ideia inicial era levar para o máximo de cidades possíveis. No entanto, o alto custo da estrutura impossibilitou isso. Segundo ele, para que o Cubo saísse do papel foi preciso realizar o corte, potencializado ainda mais, pelas restrições da pandemia da Covid-19.
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Que Mossoró é uma cidade polo, quanto o assunto é arte e cultura, não restam dúvidas – principalmente depois do Reticências Culturais, não é verdade? rsrs -, e isso está sendo novamente evidenciado com a presença de duas gigantes das artes visuais da nossa cidade: Nôra Aires e Malú. Duas mulheres extremamente talentosas, divididas por gerações e unidas pela arte.
Nôra Aires vem lá de 1961 para deixar o seu legado marcado nas paredes e nos muros do nosso Estado. Nascida e vivida em Mossoró/RN, Nôra iniciou a sua carreira na arte na década de 1980, sempre buscando uma linguagem mais experimental. A artista passou pela música, literatura e teatro até chegar nas artes visuais. Desenho, pintura, pirogravura, colagem, instalação, paisagismo, arte digital, grafite, serigrafia, ilustração, escultura e mosaico, são algumas das linguagens pelas quais Nôra já se aventurou e aventura até hoje.
As suas obras podem ser encontradas em Fortaleza/CE, Natal/RN, Rio de Janeiro/RJ, Paris/FR, Berlim/DE, Verona/IT, Viena/AT, entre outros. Agora, volta a sentir o gosto de expor em Mossoró. Dessa vez, num grande cubo instalado em frente ao Teatro Municipal, com a tela Uma Firmino 19 na Rua João da Felicidade.
“Entrar em 2022 dentro do Cubo de Luz em Mossoró é a confirmação de uma trajetória. É sentir que eu falo através do que eu estou me propondo; que eu tenho história para contar”.
Nôra Aires, artista visual.
Malu é a segunda artista a representar Mossoró. Nasceu na Capital do Oeste Potiguar, mas foi criada na praia de São Cristóvão, voltando a sua cidade natal há pouco mais de 5 anos. Nas suas obras, é possível encontrar recortes que implicam a experiência humana, a partir de manifestações mentais. O tema da racialidade é bastante explorado no seu trabalho, como na pesquisa “Corpo Diaspórico”, estudo mais recente de Malu que traz temas como pertencimento, dores e prazeres a partir de uma ideia afroperspectivada, além do sentimento difuso de convivência com a branquitude.
A artista já expôs no Coletivo MANGARTE, no SESC, na empresa Caligot e, também, aqui no Reticências Culturais (veja a exposição). Agora, a sua tela denominada “Sem Nome” passará uma temporada no centro da cidade de Mossoró.
“Vai ser algo muito grande. […] Eu quero adentrar no meu trabalho essa questão de coisas grandes em relação a uma escala humana. E isso é muito massa. Um cubo de 9 metros. Sensacional!”.
Malú, artista visual.
É importante frisar que a representatividade de artistas visuais no Cubo de Luz é pouca, visto que a pluralidade destes e destas no Rio Grande do Norte é inumerável e, dia após dia, novos nomes surgem nessa terra tão rica culturalmente. Sobre isso, Sanzia Pinheiro ainda conclui que o projeto tem consciência da importância de muitos outros artistas para a construção dessa história, e que não estiveram presente devido a várias questões, sendo a maior o limite de espaço.
Chama tua família, teus amigos, tuas amigas, e não perde a chance de visitar o Cubo de Luz.
“O que o público pode esperar do Cubo de Luz é essa aproximação de uma vivência com a produção artística e o entendimento da história da arte do RN”.
Sanzia Pinheiro Barbosa, curadora do projeto Cubo de Luz.
Aproveitem…
SERVIÇO
O que é: Cubo de Luz
Onde: Praça de Eventos (Av. Rio Branco, Bom Jardim, Mossoró-RN);
Quando: de 07 a 20 de fevereiro de 2022;
Horário: aberto o dia inteiro;
O Projeto Cubo de Luz tem patrocínio da Cosern, através do Instituto Neoenergia, e do Governo do RN e Fundação José Augusto, por meio da Lei Câmara Cascudo.
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