Você pode estar se perguntando: “mês de combate à violência contra a mulher?”. Sim. Além do Agosto Lilás, que acontece desde 2016, com o objetivo de intensificar a divulgação da Lei Maria da Penha e combater a violência doméstica e familiar contra a mulher, o mês de novembro também tem datas que representam esse mesmo propósito.

Em 25 de novembro, todos os anos, lembra-se o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, que, em consonância com a campanha de agosto, visa alertar a sociedade acerca dos casos de violência e maus tratos contra as mulheres, desde físicas, psicológicas até a episódios assédio sexual. 

A data surgiu em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), quando a reconheceu como dia internacional de eliminação desta violência. No ano de 1960, neste mesmo 25 de novembro, as irmãs Pátria, María Teresa e Minerva Maribal foram violentamente torturadas e assassinadas a mando do ditador da República Dominicana Rafael Trujillo. Diante desta ocasião, anos depois, a data surgiu para homenagear as irmãs Maribal e fazer lembrar a todos, todas e todes que a violência contra a mulher é um ato covarde, criminoso, desumano e perverso. 

Pensando em abordar, de forma lúdica, essa temática, a Cia. Bagana de Teatro está realizando diversas apresentações teatrais em municípios do interior do Rio Grande do Norte, como Mossoró, Currais Novos e Parelhas. Com os espetáculos “Mulheres à Vista” e “A Coisa do Humano”, em parceria com a Coletiva Motim Feminista e o SESC RN, o grupo de teatro mossoroense circula desde o dia 18 de novembro de 2022 até este sábado (26), levando arte e conscientização para toda a população das cidades. E, melhor, tudo gratuito.

#paracegover: atriz, como palhaça, está num palco que está iluminado com cor azul e branca e tem uma pluma rosa ao lado dela. Na frente da palhaça, crianças assistem ao espetáculo. Uma está em pé. Fotografia: Felipe Mojú.

O espetáculo “Mulheres À Vista” tem direção de Carla Concá e dramaturgia da mesma juntamente com Joriana Pontes, atriz do espetáculo. A peça fala sobre a vida de uma palhaça que se encanta por uma pessoa, mas acaba vivendo uma relação tóxica e abusiva, simbolizado pelo patriarcado estrutural que violenta as mulheres todos os dias. De acordo com Joriana Pontes, o espetáculo alerta toda a sociedade a pensar sobre a padronização dos corpos femininos e a violência contra as mulheres. 

Já “A Coisa do Humano” é um espetáculo também de palhaçaria. Com direção de Nil Moura e com Joriana Pontes estrelando, a peça relata a rotina de Porpeta, uma palhaça amorosa que vê sua vida e seus afetos serem afastados em sucessivas tragédias devido à inserção do celular, que é “a coisa do humano”, na sua vida. 

A peça “Mulheres À Vista” está sendo apresentada pela primeira vez ao público nesta circulação. Já “A Coisa do Humano” já se apresentou em mais de 10 municípios do RN e participou de festivais em Brasília/DF e Caicó/RN, além de ter sido assistido por quase 10 mil pessoas. 

O Reticências Culturais conversou com Joriana Pontes, atriz das peças, sobre a relação dos espetáculos com o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, e ela disse que isso se constrói na perspectiva do afeto que ambos os espetáculos acabam trazendo e em como isso nos afeta, enquanto população, ao relacionarmos ao tema da data. 

“Em algum lugar de fala da mulher, eles [os espetáculos] se atravessam”, explica Joriana Pontes, atriz da Cia. Bagana de Teatro.

Além disso, o fato de ser uma mulher, ali, sobretudo, fazendo palhaçaria, é por si só um pontapé no peito da violência; um empurrão no muro da opressão. Joriana diz que a palhaçaria feminina é um lugar onde se carrega “nós e outras conosco o tempo todo”. Não deixa de ser desafiador, principalmente porque o Brasil é hegemonicamente machista e violento, sobretudo, no que se refere às mulheres. Portanto, fazer com que as pessoas vejam palhaças, consumam palhaçaria feminina, é criar hábitos e referência. “Hoje somos muitas espalhadas pelo mundo”, no entanto, é preciso que a população valorize mais essa arte.

#paracegover: palhaça Porpeta está num fundo preto. Ela sorri, tem nariz vermelho de palhaço, cabelo preso com um laço rosa, um sutiã com bordado, uma tela sob o corpo, e uma luva branco até o cotovelo. Fotografia: Felipe Mojú.

Com os espetáculos “Mulheres À Vista” e “A Coisa do Humano” , o assunto do enfrentamento à violência contra a mulher é provocado em debates, relatos, assim como no próprio enredo das peças, contribuindo para que a mensagem chegue não só para adultos, mas também para as crianças, fazendo com que toda a sociedade pense sobre a questão. A atriz das peças diz que as crianças compreendem de uma forma diferente, delicada.

Segundo Joriana Pontes, as pequenas e pequenos reagem às ações da palhaça, ajudam-na a perceber que ela está casada com a pessoa errada, que a violenta, e tudo isso entra nas crianças de uma forma que as leva a perceber (mesmo que inconscientemente) que, na vida real, situações como a de Porpeta não devem acontecer. 

“Acredito que através desse espetáculo [Mulheres À Vista] podemos provocar uma consciência feminista nas pessoas! Acredito muito também que quem assistir e se reconhecer nesse lugar se toque, vire a chave e se liberte!!!”.
Joriana Pontes, atriz da Cia. Bagana de Teatro.

As peças também mostram o quanto ter uma rede de apoio é fundamental em ocasiões como essa (e muitas outras que envolvem opressão e violência). Muitas vezes, as mulheres têm medo de denunciar. E em certos casos confunde amor com dependência emocional. Diante disso, uma rede de apoio elucida, encoraja e pode até salvar a vida de uma mulher.

Só para se ter uma ideia, no primeiro semestre de 2022, a central de atendimento da Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos (ONDH) registrou 31.398 denúncias e 169.676 violações envolvendo a violência doméstica contra as mulheres. São números alarmantes e preocupantes ao extremo. Outro levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz revela que 1 a cada 3 brasileiras que sofreu violência com arma de fogo, em 2020, já havia sido vítima de violência outras vezes. A pesquisa mostra ainda a relação da proliferação de armas pelo governo bolsonarista com o agravamento dos casos desse tipo de violência.

É importante trazer dados para que a população não esqueça que enquanto vivemos nossas vidas, uma ou mais mulheres são assassinadas ou violentadas por dia. Por isso, é importante trazer mecanismos e estratégias, como a circulação da Cia. Bagana de Teatro, através do Sesc e da Motim Feminista, que colaborem no combate à essa violência.

“São nossas questões, afetos, alegrias, um lugar que nos relacionamos e nos conhecemos! Nosso lugar de fala, de agir, alertando a nós e a elas, nosso elos!”.
Joriana Pontes, atriz da Cia. Bagana de Teatro.

Para a atriz, as pessoas devem assistir aos espetáculos “Mulheres À Vista” e “ A Coisa do Humano” porque eles estão num lugar de verdade. Tendo o riso como mediador, provoca reflexões, apoio e resistência. Além de deixar o público refletindo acerca de diversos assuntos importantes de serem discutidos.

Através do espetáculo, pessoas na plateia, sobretudo, mulheres, sentem-se acolhidas, potentes e podem até se identificar com a palhaça Porpeta de alguma forma. Em “Mulheres À Vista”, a dor é ultrapassada e ressignificada, e a palhaça se liberta, assim, da opressão. “Esperamos que quem assistir ao espetáculo saia melhor do que entrou”, anseia Joriana Pontes. 

Nesta quinta-feira (24) e sábado (26), a Cia. Bagana se apresenta em Currais Novos, tanto na Escola Ozônio Araújo, às 8h, e na Praça Cristo Rei, às 17:30h. Quem tiver conhecides no município, não esqueça de encaminhar essa matéria! 

E aqui em Mossoró, a Coletiva Motim Feminista preparou uma programação alusiva à data de 25 de novembro. Nesta sexta-feira (25), o dia começa com uma exposição “Varal + Poesia”, no Centro de Convivência da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), às 8h; posteriormente, às 15h, na Praça do Pax, no Centro, terá a exposição “Passos Interrrompidos”; e por fim, também no CC/UERN, irá acontecer o sarau Pela Vida das Mulheres, às 18:30h. A iniciativa acontece em parceria com o Núcleo de Estudos sobre a Mulher – Simone de Beauvoir (NEM).

SERVIÇO:

O que é? Espetáculos “Mulheres À Vista” e “A Coisa do Humano”, da Cia. Bagana de Teatro;
Quando? de 18 a 26 de novembro de 2022;
Onde? Mossoró, Parelhas e Currais Novos/RN.

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